sábado, 24 de abril de 2010

Sem...

Sem escrever, sem tempo, sem.
Ah, Clara, se você fosse mais organizada e tranquila...
Deixar o tempo.
Por procrastinação.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Addicted to drugs

Getting married in the morning
It’s hardly peaches and cream
We haven't got a lot in common
Except the daily routine

Nothing on the television
Just the dust on the screen
So come on let's get together
Why don’t we join a team?

You might as well face it you're addicted to drugs
You might as well face it you're addicted
You might as well face it you're addicted to drugs
You might as well face it you're addicted

The greatest poet of the 6th form
Turned out to be a fraud
Man you got a lot of buddies
How do you remember them all?

You might as well face it you're addicted to drugs
You might as well face it you're addicted
You might as well face it you're addicted to drugs
You might as well face it you're addicted

Kaiser Chiefs

domingo, 11 de abril de 2010

Verbofobia

“Então Kathleen ouviu suaves toques na porta, como se a pessoa mais sutil do mundo estivesse batendo ali. Tentou ceder, mas seu próprio medo não a permitia dar um passo além da casa; só o que havia ali, no mundo de fora, era o vazio, o grande vazio, que a fazia continuar sem a coragem de simplesmente sair e se libertar.

– Isto aqui não está bom o suficiente – eu penso.

Repetia, de novo e de novo; o vazio com o medo e a falta de coragem para confrontá-lo, sempre aquela mesma história com algumas palavras diferentes. Já está virando um ciclo e a minha primeira xícara de café acaba aqui.

Olho para a garrafa ainda cheia, para o lápis, e então para o papel. Nunca sei se é possível resolver esses bloqueios mentais em uma madrugada, mas sempre tento, mesmo que a coisa mais interessante que aconteça é minha querida persa pular da janela e voltar molhada com a chuva lá fora. Não que isso seja interessante de verdade. É meio trágico, até.

A questão é que a minha vida se estabilizou de novo, e eu parei de escrever. Já procurei as palavras em tudo; remédios, álcool, maconha, ácido, essa porra toda. Não há o que escrever sobre sorrisos. Precisamos de uma grande tragédia, um grande problema, e só aí teremos uma base. Uma pessoa com a infância perfeita nunca será o escritor mais notável e criativo do mundo. Trata-se de experiência. Ou você a tem, ou então vira um advogado, trabalhos fechados de escritório para o resto de sua vida. É claro que nunca queremos nos resolver, e nem vamos contar só do que gostamos, afinal, não querem mais elogios; querem críticas. Acho que nessa parte da história reconhecemos isso.

Viro mais café na minha xícara, bebendo e olhando para o papel, e minha gata está ronronando aos meus pés, ainda seca. Tiro os óculos e fecho os olhos, me pergunto o que seria agradável ou perturbador o bastante para contar aqui nessas folhas brancas, que esperam por mim.

Os retratos pela sala me fazem lembrar o passado, enquanto desligo-me do texto que tenho em mente. Milhões de sentimentos nostálgicos passam pelos meus neurônios, em poucos segundos já sei o que significa toda a minha vida até agora. Penso que já é tarde demais, e começo a me arrepender. Me sinto fraca por tudo o que achei ter criado, quando na verdade, só estava sendo outra coisa além de mim. Uma cópia. De novo.

Minha segunda xícara faz a garrafa quase pela metade, e acabando aos poucos. Viro um pouco mais do café.

Não importa o quanto você pense que uma pessoa te ame, isso é o menos relevante. Você sempre vai recuar quando chegar no seu limite. Ao estar com alguém, parece fácil aguentar tudo, as manias, os defeitos, mas a coisa não é tão simples assim. A unidade única completa de amor que vai te satisfazer em pessoa, bem, isso não é tão simples assim. Você ainda tem que ceder. Acho que os meus limites devem começar aí.

“Kathleen fechou os olhos por um instante e imaginou que ele estivesse tocando a porta, como sempre fez, há anos. Ela começou a imaginar e sorrir, com tamanha sinceridade refletida em seu rosto; e aquilo era a verdade.”

Sempre que olho para as fotos em minha parede, sinto alguma coisa faltando. Acho que não superei completamente o fato de esperar demais e nunca fazer nada.

Naquela época em que fazia terapia, a psicóloga disse que quando escrevemos é só uma forma de colocar para fora e apelar o que temos perdidos por dentro, sem termos necessariamente que nos abrir em público, se é que temos problemas com isso. Ela disse que essa aqui é a minha confissão. Os meus erros sendo passados para o meu eu lírico, me libertando. Suponho que não devo fugir demais da realidade.

A gata arranha o pé da mesa, eu escuto esse som suave na direção da porta. Por um momento, quis que fosse você deslizando os dedos e gastando as unhas ali, fazendo barulhos que me deixassem um pouquinho assustada, para depois checar, e poder sorrir ao te ver.

Essa aqui é a minha confissão.

Eu sinto falta disso. E de fazer bolinhos de madrugada. E de varrer a casa pela manhã. E de sempre fazer uma quantidade de café que nos deixasse com vontade de beber mais um pouco.

“Kath pensou em ir até o seu som imaginário, e foi caminhando de olhos fechados, pensando na cara que ele faria quando ela abrisse a porta de uma vez só.

A terceira xícara começa aqui e repito, essa é a minha confissão.

O som que minha gata faz parece tão real que sinto uma pontinha de vontade de ir até a porta. Chegar devagar e, ainda na ponta dos pés, tentar te surpreender, por mais que você sempre me surpreenda.

De verdade, achei que fosse real.

“Então ela se concentrou em imitar um barulho diferente dessa vez, para deixar você pensando que ela era realmente uma garota estranha, única e especial.”

Me levantei e fui caminhando até a porta, antes que a garrafa terminasse, antes que até mesmo a minha quarta xícara começasse. Nessa madrugada de chuva, eu dei passos cegos pelo assoalho, sobre as meias, com um pequeno sorriso querendo aparecer em minha cara.

“Ela segurou a maçaneta tão forte que agora nada mais existiria no mundo.”

O gosto de café na minha boca me impedia de lembrar o gosto de qualquer outra coisa no mundo. Subi na ponta dos pés para olhar por aquele buraquinho da porta e tentar enxergar algo.

“Girou e abriu a porta, com toda a sua esperança focada na própria mão. E aí Kathleen abriu os olhos.”

“Mais uma vez, não havia nada lá fora.”

Pensei que fosse você.




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