quinta-feira, 25 de março de 2010

Sonhos número 1

Sonhos #1

Esse texto não tem nada a ver com pessoas. E ao mesmo tempo, tem tudo a ver. É uma rua de duplo sentido. Mas se você estiver com as expectativas infladas para isso, direi já aqui: não há nada demais nas próximas palavras.

Estou escrevendo isso só para mim, para que eu nunca possa esquecer da loirinha de cinco anos dos olhos mais azuis do (meu) mundo, com minha péssima memória. Não sei como começar, na verdade.

Nada é real; estou num universo de minha mente onde só existem três pessoas, que talvez sejam reais, talvez não. Eu. A garota de cabelo preto cacheado que ouvia Interpol com uma blusa do Franz Ferdinand. E a menininha loira.

Ah, a menininha loira, que ficava o dia inteiro desenhando faróis com uma expressão triste e ao mesmo tempo vazia, e sempre sozinha. Seus olhos refletiam o céu, aquela cor que ainda me faz pensar, “por que tenho olhos escuros?” Era isso; sua vida com o lápis, entre o papel e o seu corpo.

Acho que por instinto, foi conversar com ela para saber o motivo de tanta carinha triste. Sempre que vejo alguém assim, digo o quanto posso estar pior. Isso faz sentir algo do tipo “estou segurando a onda mais fundo que você”, mas é simplesmente imbecil. Qual o motivo de perguntar o problema dos outros para dizer como você é só a escória dos problemas piores? Tudo pode piorar e sempre tiramos vantagem. Subindo, e descendo.

Mas então, dessa vez foi diferente. A garotinha nunca me disse uma palavra e eu “conversava” com ela. Incrivelmente, nós nos comunicávamos, sem palavras soltas de um modo comum. Entre músicas e desenhos. Entre olhares e pequenos gestos. E tudo isso me fazia sentir menor e amá-la demais.

E é só. Como todos os sonhos, teve um fim. Até me surpreendi, porque pouco antes e acordar, dei o abraço mais forte o possível nela. E disse, eu te amo. E a abracei mais ainda.

Acordei feliz. Calma, em paz. Isso foi o mais perto que consegui para descrevê-la, mas não há palavras boas o suficiente que descrevam a menina que nunca falava nada. Nem mesmo soube o seu nome, mas sei que ela não é só uma menina. Não sei do que chamá-la também. A garotinha que não falava nada e dizia tudo. Aquela que para o mundo era só uma garota, e para mim, ela foi o mundo.

Eu desejei que dormisse novamente para vê-la. De novo, e de novo, e de novo. Era melhor que o mundo real. Era muito melhor.

E quando saio do meu universo particular, com um corpo de verdade para suprir, penso nas pessoas, e já é impossível não compará-las com a menina. Aquelas conversas sobre dinheiro, material, empregos e felicidade. “Felicidade”. Isso é só mais um valor que damos a qualquer merda que sentimos e achamos que entendemos. E olhar para o mundo me deixa... Sei lá. Não consigo explicar a sensação de nunca querer ter acordado. Ou de querer que no mundo houvesse poucas pessoas, que entre si, significassem mais coisas do que significam agora esses milhões de humanos que sabem ser mecânicos, odiar a e amar. Fazer tudo o que devem fazer, de acordo. E como sinto falta daquele lugar que a única realidade era nós mesmos, nossa arte, nossa música.

No mundo aqui fora, existe a ignorância e a solidão humana, a minha volta e em todo lugar.

E, caralho, eu não pertenço aqui.

2 comentários:

  1. Contagiante, acabo de presenciar as mais belas palavras das últimas semanas, tive surto de experiência estética com seu texto!

    obs: sei que não te conheço, mas sei quem você é por nina p.

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