domingo, 21 de fevereiro de 2010

Louise.

Tento prestar o mínimo de atenção no telefone, mas simplesmente não consigo me concentrar. É fácil fingir que escutamos uma criança, enquanto temos que continuar trabalhando e ignorando milhões e milhões de palavras. "Legal", risadas, "É mesmo?", risadas, "Uhum", risadas. É só isso que fazemos. E elas continuam sempre falando seus casos e dizendo o que sempre estão a fazer, eu simplesmente fecho os olhos e imagino o que escrever vindo em minha mente, sem silêncio o suficiente para poder concentrar-me, com pouca atenção para ouvir.
É completamente inútil dizer tudo isso. Mas como eu disse, estou com a atenção limitada para vozes em minha cabeça. Não sei se isso é real, não sei se as vozes são reais, talvez eu tenha passado tanto tempo sozinho que minha própria mente esteja criando uma forma de falar com as pessoas... mesmo quando elas nem mesmo estejam vivas de verdade.
E então raramente recebo ligações inesperadas. Pessoas me contam histórias, seus dias, seus problemas, o que elas fazem de bom, ou de ruim. É a minha diversão.
A pessoa da vez foi uma garotinha chamada Louise.
Eu diria que ouvi coisas a noite inteira, nenhuma com um sentido exato. Ela as criava, e no final, sem se lembrar do começo, nunca terminava alguma. E era assim que eu comecei a quebrar meu tédio todas as noites. Ouvindo.
Louise sabia o meu número, e sabia que eu sempre estaria lá para ouvir algo que ela tivesse a dizer.
Uma segunda voz chega para quebrar minha diversão, talvez sua mãe, talvez somente alguém, e eu suspiro. Afinal, Louise é só uma criança e ainda tem uma família. Como sei que ela nunca vai me ligar outra vez, simplesmente coloco o telefone em seu lugar ao lado de minha cama, e fecho os olhos para tentar dormir um pouco. Louise me amava porque eu a ouvia. Eu a amava por não fazer sentido nenhum. Nunca soube seu segundo nome ou de onde ela era, mas era o que eu chamava de amor, quando não tinha nada de verdade para amar.

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